A desconfiança
e o medo presentes na cidade condicionam as interações sociais e separam os
contextos marcados pelas diferenças. Ao mesmo tempo, a necessidade humana pela
convivência social permite a formação de atividades coletivas e a utilização de
ambientes públicos entre diferentes sujeitos e atividades. Mas, qual o
equilíbrio entre a desconfiança e a interação de grupos sociais para a
espacialização de um contexto coletivo mais satisfatório e seguro?
As atividades
urbanas e o uso das áreas livres públicas ocasionam situações (reais e hipotéticas)
de perigo contra a integridade física e à saúde das pessoas: acidentes no
trânsito, violência em áreas de conflito social, poluição do ar, barulho,
insolação excessiva e a convivência forçada com sujeitos estranhos, que geram
motivos para tonar a vida na cidade um risco constante.
Reduzir esses
riscos garantindo segurança e conforto nas metrópoles são serviços já prestados
por empresas e instituições, que lucram com a insegurança e realçam ainda mais
esta sensação quando abarcam com os efeitos do medo sem afetar suas causas.
Carros blindados, sistemas de vigilância e condomínios murados tornam-se
aparatos físicos que nos liberam da sensação constante de insegurança, ainda
que delimitem nossa liberdade de ir e vir.
A vida no
ambiente urbano reduziu os riscos que eram onipresentes na vida selvagem junto
ao ambiente natural. Porém, na maneira como a formação da cidade é conduzida na
atualidade, a segregação dos grupos e indivíduos gera conflitos no espaço
urbano onde as interações não são seguidas pelo reconhecimento das diferenças.
A vida cotidiana promove encontros entre pessoas distintas em comportamento,
etnia, gênero e classes sociais. Mas a criação de fronteiras a partir destas
diferenças é o que gera uma cidade fragmentada e destituída de unidade na
valorização do espaço público.
Tais fronteiras
são marcadas por diferentes distâncias e camadas de representação. Condomínios
fechados, centros comerciais, clubes para associados, veículos particulares, formam
subterfúgios para garantir maior segurança e isolamento, ao mesmo tempo em que
definem novos padrões de comportamento para evitar a sensação de medo.
Promover
encontros segmentados entre grupos semelhantes é uma forma de garantir a
interação social sem a geração de riscos por situações inesperadas. Tais
convenções geram ambientes monótonos e situações previsíveis. Mas esse é o
preço que se paga para evitar a insegurança do movimento aleatório da rua, onde
coisas surpreendentes acontecem.
Marcos Sardá Vieira
Professor da UFFS e coordenador do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário