quinta-feira, 31 de outubro de 2013

DESRESPEITO AO ESPAÇO PÚBLICO

Praça Jayme Lago, Erechim/RS. 26/10/2013. Foto: Manoela Osmarini

"(...) valorizar uma praça, por seu uso e sua função na cidade, é respeitar o próprio indivíduo que a frequenta, como as crianças, os expectadores e até mesmo as pessoas que não a percebem.”
Texto "Sentindo a Praça", por Manoela Osmarini

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

ILUMINAÇÃO PÚBLICA: TRANSFORMADORA DE ESPAÇOS

    Antes que a iluminação pública fosse elemento integrante da paisagem noturna urbana, as pessoas não se apropriavam do espaço público quando o sol desvanecia. A partir do momento em que temos a iluminação artificial disponível, a vida do homem atual e a atividade social se tornam mais ativas, pois quando a luz é utilizada qualitativamente ela assume um papel na geração de possibilidades na vida urbana.
    As potencialidades da luz ultrapassam sua função óbvia de iluminar. Seu uso toma um lugar de extrema importância na paisagem urbana, já que sua configuração é responsável pela boa ou má ocupação do espaço público. As sensações dos usuários destes espaços em relação a este instrumento são inúmeras e não podem ser ignoradas. A luz dá legibilidade, que permite enxergar obstáculos, cria referenciais e simula intenções, consequentemente, proporciona segurança, conforto, liberdade de sair à noite. Também é agente estético na cenografia urbana. Seu aspecto visual é sem dúvida muito agradável.
    Nota-se que, muitas vezes, há uma falha na iluminação das cidades. A falta da mesma desestimula as pessoas a interagir com o meio em que vivem e cria barreiras de uso quando também facilita os perigos das ruas. Exemplificando os aspectos tratados, podemos citar a iluminação presente no entorno das rodoviárias intermunicipal e interestadual de Erechim, a qual por fazer parte de locais muito frequentados deixa a desejar. As ruas paralelas a estes pontos possuem lacunas escuras e de pouco movimento. No entorno há lotes desocupados, e também arborização de grande porte, que sem suportes de luz na altura adequada de uma escala humana, acaba escondendo espaços, o que invalida muitos benefícios da vegetação. Estes são fatores que não permitem o reconhecimento de sinais de hostilidade por parte das pessoas. Estas deficiências assumiriam outra situação diante da presença de iluminação planejada de acordo com as necessidades locais, pois não inspirariam insegurança e perigo.
    Em contraponto às qualidades do uso da iluminação, também há a possibilidade de inadequação luminosa em pontos que desvalorizam a arquitetura da cidade. É frequente vermos focos de luz em placas de comércio, sendo que, se poderia valorizar e embelezar um espaço iluminando monumentos e prédios com os quais a população tenha apreço, ou que pelo menos deveria ter, como é o caso do conjunto arquitetônico Art Déco em Erechim.
    O motivo da iluminação pública já está no próprio termo, é para o público. A valorização da paisagem urbana está diretamente ligada à qualidade de incidência da iluminação, natural e artificial. Para melhores resultados, deve haver um planejamento de iluminação que procure ressaltar as qualidades dos espaços, e com isso atrair as pessoas. Por fim, em uma análise profunda percebe-se que o objetivo da iluminação artificial pública é preparar o espaço para o convívio social e a integração da cidade.

Débora Mattos
Acadêmica da UFFS e integrante do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Publicado no Jornal Bom Dia - Erechim/RS - 02 de julho de 2013

terça-feira, 8 de outubro de 2013

ESFERA PÚBLICA E DIVERSIDADE HUMANA

    A definição das áreas livres da cidade como ambiente tradicionalmente democrático está sujeita a redefinições. Por mais que as áreas públicas representem o espaço para todos e todas, a desigualdade e a segregação dos grupos sociais ainda define territórios entre diferentes parâmetros de qualidade de vida e visibilidade social.
    Os territórios sociais na cidade ainda são estabelecidos com diferentes núcleos, cada qual com seus líderes, mantendo a sociedade conectada em áreas próximas, mas ainda alienadas das diferenças sociais, culturais e comportamentais, separadas a poucos graus uma das outras.
    A diversidade dos sujeitos que coabitam a cidade define o potencial de riqueza social a partir dos diferentes valores humanos, gerando cidades mais criativas do que o próprio contexto dos grupos fechados e padronizados. A formação dos aglomerados urbanos, por si só, traz a possibilidade de maior qualidade de vida pela colaboração dos serviços e conhecimentos compartilhados entre os sujeitos, quando possibilitam condições adequadas de convivência e respeito pelas diferenças. Ao contrário do estado de guerra que ocorre na Síria e no Líbano, motivado por concepções políticas, econômicas e religiosas, que promovem o ódio e reacendem diferenças significativas para a promoção do terrorismo nas ruas e nas mesquitas, onde a boa convivência pública deveria garantir a paz e a integração entre as pessoas.
    Há cinquenta anos atrás, em 28 de agosto de 1963, o ativista Martin Luther King Jr. comandou o protesto que reuniu 250 mil pessoas na capital Washington e marcou a história contra o preconceito e a desigualdade social dos negros nos Estados Unidos. Durante os pronunciamentos ocorridos na semana passada, em comemoração aos cinquenta anos do manifesto, políticos e líderes sociais declararam os avanços e retrocessos de uma sociedade ainda desigual, mas que apresenta maior participação das mulheres, dos imigrantes, dos homossexuais e dos deficientes físicos na constituição de um país comandado atualmente por um presidente negro.
    E o que falta para que a sociedade brasileira reconheça o valor das diferenças sociais e dos grupos minoritários que fazem parte desta sociedade tão rica em fatores humanos? Talvez, as manifestações, de junho deste ano, representam uma diferença na maneira como a sociedade brasileira tende a se posicionar coletivamente para manifestar os diferentes interesses em um único protesto. Estas manifestações, que continuam surtindo efeito, demonstram a força de uma nova sociedade que estabelece uma unidade na comunicação através das redes sociais e torna real sua presença nas ruas da cidade, valorizando o caráter público deste ambiente social cheio de possibilidades.

Marcos Sardá Vieira
Professor da UFFS e coordenador do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Publicado originalmente no Jornal Bom Dia - Erechim/RS - Agosto de 2013

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

ÁREAS LIVRES DE ERECHIM: TER E NÃO CONTER

     Se no século XX, com a publicação do livro “Morte e Vida das Grandes Cidades”, Jane Jacobs defende a diversidade urbana para se viver bem na cidade, será que o mesmo pode ser afirmado hoje? De fato, vivemos em um período de inovações tecnológicas, da cultura de consumo e, talvez por isso, muitas de nossas cidades brasileiras podem ser definidas como um caos urbano, seja pela maneira como são ocupadas ou previamente estruturadas.
     Nesse contexto, a preocupação em definir áreas construídas na cidade acaba se sobressaindo em relação as definições de áreas livres para uso público. Erechim vive esta realidade, uma vez que o planejamento urbano falha na promoção de encontros e na definição de ambientes públicos que propiciem melhor qualidade de vida aos seus habitantes. Assim, percebe-se que o foco maior de investimentos urbanos está vinculado à construção de prédios e residências, ou seja, na configuração das áreas privativas da cidade.
     Observando espaços como a Praça da Bandeira e o Parque Municipal Longines Malinowski, por exemplo, percebemos que as áreas livres em Erechim encontram-se mal distribuídas, principalmente pela sua ausência em bairros distantes do centro. Além disso, verificamos dificuldades nessas áreas públicas em aspectos de acessibilidade universal, iluminação e na segurança dos usuários. Dessa forma, cremos que as áreas livres da cidade poderiam ser melhor tratadas, situação constatada no Parque Malinowski, onde a mata fechada poderia contemplar trilhas e mobiliário urbano, fazendo com que os usuários se sentissem à vontade para permanecer no local e reduzindo a sensação de insegurança, condição em que encontra-se hoje.
     Em decorrência do ritmo acelerado em que vivemos e do estresse urbano, as áreas livres públicas, voltadas para o lazer, têm muito a contribuir com a qualidade de vida daqueles que ali residem. Temos exemplos de iniciativas que comprovam isso, como o Parque do Ibirapuera em São Paulo, que contempla ciclovias e ambientes de permanência em grandes áreas verdes, apresentando iniciativas simples e muito bem aceitas pelos paulistanos. 
     Ao citar este exemplo, talvez reste a dúvida: será que nossa cidade não poderia contemplar melhor os espaços públicos de lazer? Implantar sistemas de ciclovias, instalar mobiliário urbano e promover a diversidade de uso próximo das áreas livres seriam iniciativas positivas para qualificar o espaço urbano em Erechim. Ao mesmo tempo, com a interação obtida nestes espaços, além da modernidade desejada, acredito que a cidade estaria fazendo jus a seu título de capital da amizade, proporcionando ambientes urbanos bem qualificados para o convívio social de seus habitantes. 

Kauê Lima de Souza
Acadêmico da UFFS e integrante do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Publicado no Jornal Voz Regional - Erechim/RS - 05 de junho de 2013