terça-feira, 8 de outubro de 2013

ESFERA PÚBLICA E DIVERSIDADE HUMANA

    A definição das áreas livres da cidade como ambiente tradicionalmente democrático está sujeita a redefinições. Por mais que as áreas públicas representem o espaço para todos e todas, a desigualdade e a segregação dos grupos sociais ainda define territórios entre diferentes parâmetros de qualidade de vida e visibilidade social.
    Os territórios sociais na cidade ainda são estabelecidos com diferentes núcleos, cada qual com seus líderes, mantendo a sociedade conectada em áreas próximas, mas ainda alienadas das diferenças sociais, culturais e comportamentais, separadas a poucos graus uma das outras.
    A diversidade dos sujeitos que coabitam a cidade define o potencial de riqueza social a partir dos diferentes valores humanos, gerando cidades mais criativas do que o próprio contexto dos grupos fechados e padronizados. A formação dos aglomerados urbanos, por si só, traz a possibilidade de maior qualidade de vida pela colaboração dos serviços e conhecimentos compartilhados entre os sujeitos, quando possibilitam condições adequadas de convivência e respeito pelas diferenças. Ao contrário do estado de guerra que ocorre na Síria e no Líbano, motivado por concepções políticas, econômicas e religiosas, que promovem o ódio e reacendem diferenças significativas para a promoção do terrorismo nas ruas e nas mesquitas, onde a boa convivência pública deveria garantir a paz e a integração entre as pessoas.
    Há cinquenta anos atrás, em 28 de agosto de 1963, o ativista Martin Luther King Jr. comandou o protesto que reuniu 250 mil pessoas na capital Washington e marcou a história contra o preconceito e a desigualdade social dos negros nos Estados Unidos. Durante os pronunciamentos ocorridos na semana passada, em comemoração aos cinquenta anos do manifesto, políticos e líderes sociais declararam os avanços e retrocessos de uma sociedade ainda desigual, mas que apresenta maior participação das mulheres, dos imigrantes, dos homossexuais e dos deficientes físicos na constituição de um país comandado atualmente por um presidente negro.
    E o que falta para que a sociedade brasileira reconheça o valor das diferenças sociais e dos grupos minoritários que fazem parte desta sociedade tão rica em fatores humanos? Talvez, as manifestações, de junho deste ano, representam uma diferença na maneira como a sociedade brasileira tende a se posicionar coletivamente para manifestar os diferentes interesses em um único protesto. Estas manifestações, que continuam surtindo efeito, demonstram a força de uma nova sociedade que estabelece uma unidade na comunicação através das redes sociais e torna real sua presença nas ruas da cidade, valorizando o caráter público deste ambiente social cheio de possibilidades.

Marcos Sardá Vieira
Professor da UFFS e coordenador do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Publicado originalmente no Jornal Bom Dia - Erechim/RS - Agosto de 2013

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