A
definição das áreas livres da cidade como ambiente
tradicionalmente democrático está sujeita a redefinições. Por
mais que as áreas públicas representem o espaço para todos e
todas, a desigualdade e a segregação dos grupos sociais ainda
define territórios entre diferentes parâmetros de qualidade de vida
e visibilidade social.
Os
territórios sociais na cidade ainda são estabelecidos com
diferentes núcleos, cada qual com seus líderes, mantendo a
sociedade conectada em áreas próximas, mas ainda alienadas das
diferenças sociais, culturais e comportamentais, separadas a poucos
graus uma das outras.
A
diversidade dos sujeitos que coabitam a cidade define o potencial de
riqueza social a partir dos diferentes valores humanos, gerando
cidades mais criativas do que o próprio contexto dos grupos fechados
e padronizados. A formação dos aglomerados urbanos, por si só,
traz a possibilidade de maior qualidade de vida pela colaboração
dos serviços e conhecimentos compartilhados entre os sujeitos,
quando possibilitam condições adequadas de convivência e respeito
pelas diferenças. Ao contrário do estado de guerra que ocorre na
Síria e no Líbano, motivado por concepções políticas, econômicas
e religiosas, que promovem o ódio e reacendem diferenças
significativas para a promoção do terrorismo nas ruas e nas
mesquitas, onde a boa convivência pública deveria garantir a paz e
a integração entre as pessoas.
Há
cinquenta anos atrás, em 28 de agosto de 1963, o ativista Martin
Luther King Jr. comandou o protesto que reuniu 250 mil pessoas na
capital Washington e marcou a história contra o preconceito e a
desigualdade social dos negros nos Estados Unidos. Durante os
pronunciamentos ocorridos na semana passada, em comemoração aos
cinquenta anos do manifesto, políticos e líderes sociais declararam
os avanços e retrocessos de uma sociedade ainda desigual, mas que
apresenta maior participação das mulheres, dos imigrantes, dos
homossexuais e dos deficientes físicos na constituição de um país
comandado atualmente por um presidente negro.
E
o que falta para que a sociedade brasileira reconheça o valor das
diferenças sociais e dos grupos minoritários que fazem parte desta
sociedade tão rica em fatores humanos? Talvez, as manifestações,
de junho deste ano, representam uma diferença na maneira como a
sociedade brasileira tende a se posicionar coletivamente para
manifestar os diferentes interesses em um único protesto. Estas
manifestações, que continuam surtindo efeito, demonstram a força
de uma nova sociedade que estabelece uma unidade na comunicação
através das redes sociais e torna real sua presença nas ruas da
cidade, valorizando o caráter público deste ambiente social cheio
de possibilidades.
Marcos Sardá Vieira
Professor da UFFS e coordenador do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
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