sábado, 23 de novembro de 2013

SENTINDO A PRAÇA

Qual o significado de uma praça para aquelas pessoas que eu vejo se divertindo e rindo, ou até mesmo para aqueles que têm um olhar vago, andando de lá para cá? Como explicar a influência que a praça possui para o edifício em construção, estático, por trás de árvores que acolhem em suas sombras crianças a brincar? Qual sentido ela possui para mim, sendo somente mais um indivíduo a ocupa-la? Sem nos darmos conta da complexidade de uma simples praça, passamos a não enxergá-la em nossa rotina.
Analisando mais profundamente este espaço, ele não se dá apenas como um elo, unindo partes da cidade, mas é também uma forma de expressão social, na ocupação e na permanência de pessoas que buscam lazer, atividade física e demonstrações culturais, como feiras livres, apresentações de dança e música. Geralmente, com ausência de área construída, a praça recebe mobiliário urbano (bancos, lixeiras, bebedouros, etc.) para atender seus usuários, como as populares academias ao ar livre. Para muitos, a praça é um espaço aberto que torna-se uma rota de fuga do estresse, do trabalho e do congestionamento, fatores recorrentes nos centros urbanos.
Legado de muitas paixões e sede de amores proibidos, acolhedora de homens sem rumo e grandes generais, algumas praças tornam-se famosas, como a Piazza Erbe (Praça Erbe) em Verona, palco do eterno amor de Romeu e Julieta. Ou a Piazza Barberini (Praça Barberini) em Roma, que abriga a Fontana del Tritone (Fonte de Tritão), uma das primeiras fontes esculpidas por Bernini. Estes dois exemplos, localizados na Itália, mostram a importância de uma praça para a própria formação cultural e histórica de uma civilização.
No contexto brasileiro, a representação da praça no cenário urbano apresenta menor destaque na delimitação do espaço público e na apropriação efetiva como área de lazer, diferente do espaço público que é voltado para as atividades de consumo. Por serem espaços abertos e públicos, as praças acabam abandonadas por falta de manutenção, tornando-se lugares desqualificados e perigosos. Este espaço, quando mal cuidado, perde seu valor e acaba se tornando mais um problema inserido na infraestrutura urbana.
Confiante na importância das praças urbanas, o jurista Paulo Affonso Leme Machado, defensor do direito ambiental brasileiro, relata que “a praça não deve ser conservada porque é uma paisagem notável. Mas simplesmente - e basta- porque é uma praça”.
Por fim, valorizar uma praça, por seu uso e sua função na cidade, é respeitar o próprio indivíduo que a frequenta, como a criança, o expectador e, até mesmo, as pessoas que não a percebem de imediato. Cada qual deixa sua marca neste espaço, seja de forma positiva, como em feiras e eventos abertos ao público, apresentações culturais e atos pessoais, ou de forma negativa, depredando e sujando este importante espaço de refúgio coletivo, que é nosso legado na história.

Manoela Baratti Osmarini
Acadêmica da UFFS e integrante do PARK:
Publicação em Arquitetura e Urbanismo
Publicado no Jornal Bom Dia - Erechim/RS - 1, 2 e 3 de junho de 2013

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